domingo, 8 de dezembro de 2024

A MARGINALIDADE DO NATAL

 A MARGINALIDADE DO NATAL


"Depois que Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: ‘Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’. Quando o rei Herodes ouviu isso, ficou perturbado, e com ele toda a Jerusalém. Tendo reunido todos os chefes dos sacerdotes do povo e os mestres da lei, perguntou-lhes onde deveria nascer o Cristo. E eles responderam: "Em Belém da Judéia; pois assim escreveu o profeta..."


- Mateus 2:1-5


    É notória nos Evangelhos a aproximação de Jesus com os marginalizados, excluídos e segregados. Suspeito que isso não é apenas fruto da sua misericórdia grandiosa, ou da sua graça insistente, ou ainda, do seu profundo amor, o que já seria tudo isso, por si só, maravilhoso. Porém, não é exagero associar essa identificação de Jesus com os excluídos ao fato de que era ele também um marginal. Todos sabem da solidariedade que há entre os que sofrem. 

    A mensagem do Natal de Jesus é, sem sombras de dúvidas, uma mensagem marginal para os marginalizados. Somente nessa breve cena que compõe a saga do advento, contém algumas informações que atestam essa marginalidade.

    A primeira é que o evento mais extraordinário de toda a história de Israel é percebido não pelos escribas, fariseus ou mestres da Lei, mas por magos-astrólogos vindos do oriente. A eles fora revelado, bem antes de qualquer um dos profetas e sacerdotes que viviam naquele período em Israel, o nascimento do Cristo. O relato daqueles esotéricos era que uma misteriosa estrela os guiou por dias, ao longo de desertos, proclamando o nascimento do Messias aguardado.

    Aqui, já de cara, há um inconveniente fato sobre o nascimento de Jesus. O Rei do Judeus, filho de Deus, o messias aguardado por toda a elite religiosa e estudiosos da Lei de Israel, faz o seu anúncio através de uma estrela, fora do templo e dos livros, para gentios. Isso, provavelmente, para nos ensinar que a mensagem do Natal, além de ser marginal, é, também, supra religiosa. Jesus de Nazaré não está sob o domínio dos religiosos, nem das suas leis e tão pouco das suas “cidades santas”.

    Não foi em Jerusalém e nem em Samaria. Não foi dentro do sacrossanto templo de Israel, e também não foi num dos aposentos do majestoso palácio de Jerusalém. Jesus nasce em Belém da Judeia, nos fundos de uma simples casa de um dos aldeões que, provavelmente, nem sabia o que estava acontecendo, além da agonia do parto de uma jovem pobre. A profecia de Miqueias não era conhecida de todo o povo. Somente os eruditos de Israel, que viviam na capital, bem próximos do rei, sabiam que o messias nasceria na pequenina e irrelevante Belém. 


E mesmo diante do alvoroço que essa notícia trouxe, deixando o Rei e toda a Jerusalém perturbados, os eruditos não foram à Belém, não se dispuseram a visitá-los, assisti-lo e nem em adorá-lo. Provavelmente, assim como na parábola do “Bom Samaritano”, passaram de largo e seguiram para as suas atividades importantes no importante templo. Ao invés deles, pastores, magos, anjos e bichos deram as boas vindas ao Rei do Universo. 

    Dessa vez, o que podemos perceber é a acessibilidade do Santo Rei que acabara de nascer. Enquanto no palácio da cidade santa, para ter acesso à presença do rei Herodes, ou no templo, para levar as suas orações, havia, para o povo, um sem fim de protocolos e critérios, está ali Jesus, o Rei dos Reis, sem guardas, sem “protocolos de segurança”, sem rituais de purificações e nem muros de separação, recebendo presente de estranhos, sendo acolhido por gente simples e diante dos animais da roça. Simples, disponível, poderoso e marginal.

    Não podemos deixar de perceber que a mensagem poderosa de Jesus está para além dos seus sermões, ensinos e exortações, pois é evidente que o próprio Jesus é a mais poderosa mensagem do Evangelho de Deus. A Boa Nova veio quebrar a lógica da religião, do domínio e dos poderosos. Deus fez de Jesus, desde antes do seu nascimento, um profeta transgressor, que estava condenado a ser um marginal da religião de Israel, dos seus sacerdotes e dos governantes. Mas o povo pôde receber o Rei dos Judeus, o Santo de Israel, que se fez carne, se fez povo e marginal para, junto aos marginalizados, anunciar a salvação de Deus.

    Precisamos prestar atenção nessa mensagem. Não foi à toa e sem propósito tudo isso. Deus queria nos ensinar que bem aventurados são os pobres, os que choram e os perseguidos porque, ainda que nos reinos e nas religiões dos homens não tenham espaços para eles, no Reino Anunciado por Jesus, a lógica é invertida: Os últimos serão os primeiros, os menores serão os maiores e os marginalizados, excluídos segregados são bem vindos e estarão com Jesus no centro, numa mesa farta de pão, amor, perdão e graça.


- Pr Lázaro Sodré

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