segunda-feira, 23 de setembro de 2019


“POR QUE ESTÁS TÃO TRISTE, Ó MINH’ALMA?”
UM LAMENTO (SALMO 42.43)
(Uma Pastoral sobre o setembro Amarelo)

“Existem dias que parecem noites”.

Em alguns momentos das nossas vidas, somos surpreendidos com tristezas que vêm e ficam. As noites parecem mais longas, os dias mais cinzentos, a alegria parece um insulto. Não há motivos suficientes que justifiquem viver. É justamente nesses momentos que se instala a depressão. A depressão não é simplesmente uma tristeza. Talvez por causa do culto contemporâneo à felicidade, em que o tempo todo e a todo custo todos devem estar felizes, muitos confundem um momento de tristeza com essa terrível doença.

Ficar triste faz parte da vida, assim como ficar alegre. Na vida existem momentos de alegrias e de tristeza, de choro, de chateações. Mas esses momentos pontuais, isolados, ou com uma causa bem definida, como a perda de um ente querido, o término de um relacionamento, uma frustração acadêmica ou profissional, não podem ser confundidos com depressão. Essas coisas podem ser um “gatilho” que desencadeia a depressão, mas não necessariamente.

A Org. Mundial da Saúde (OMS) afirma que a partir de 2020, dentre todas as doenças, a depressão será a maior causa de absenteísmo no mundo. Pessoas fora dos seus ambientes naturais de trabalho, família, estudo e lazer por causa da depressão. A depressão, assim como qualquer doença grave, precisa de diagnóstico especializado e tratamento correto. Não é qualquer pessoa que tem autoridade e condições para dizer que alguém está ou não mais está em depressão. E o tratamento demanda tempo, paciência e responsabilidade.

Três coisas que a depressão não é:  
1. Não é drama. 
2. Não é para chamar atenção. 
3. Não é falta de Deus.

Três coisas que uma pessoa com depressão precisa:  
1. Diagnóstico Especializado. 
2. Apoio e Acolhimento. 
3. Tratamento Adequado.

Há quem diga que esse lamento descrito nos Salmos 42 e 43 seja de um levita da casa de Coré. Provavelmente exilado, no norte de Israel, impossibilitado de fazer as peregrinações comuns aos Judeus, ao menos, três vezes ao ano. Não temos como saber as razões pelas quais ele se encontra nessa situação, mas podemos perceber alguns sinais de depressão nesse homem de Deus. Esse lamento pode ser dividido em três partes.

I PARTE: 42.1-5:
- 42.1-2 -  “Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus?” -  Sentimentos de desesperança e luto.

- 42.3 – “Minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de noite, pois me perguntam o tempo todo: "Onde está o seu Deus? "  - Sinais de alteração no sono, desamparo.
- 42.4 – “ Quando me lembro destas coisas choro angustiado. Pois eu costumava ir com a multidão, conduzindo a procissão à casa de Deus, com cantos de alegria e de ação de graças entre a multidão que festejava.” - Tristeza profunda e um “vazio” persistente, sentimentos de inutilidade.                                                                                                

II – PARTE: 42.6-11:
- 42.7 – “Abismo chama abismo ao rugir das tuas cachoeiras; todas as tuas ondas e vagalhões se abateram sobre mim.” ¬- Falta de energia, apatia e cansaço.
- 42.9 – “Direi a Deus, minha Rocha: "Por que te esqueceste de mim? Por que devo sair vagueando e pranteando, oprimido pelo inimigo? " - Sentir-se inquieto, dificuldade de concentração.
- 42.10 – “Até os meus ossos sofrem agonia mortal quando os meus adversários zombam de mim, perguntando-me o tempo todo: "Onde está o seu Deus? " - Mal estar e dores físicas sem causa aparente.

III – PARTE: 43.1-5:
43.1.2 – “Faze-me justiça, ó Deus, e defende a minha causa contra um povo infiel; livra-me dos homens traidores e perversos. Pois tu, ó Deus, és a minha fortaleza. Por que me rejeitaste? Por que devo sair vagueando e pranteando, oprimido pelo inimigo?” – Desamparo, solidão e vulnerabilidade.

Assim como Elias (I Rs 19), Jonas (Jn 4) ou mesmo Paulo (2 Co.1.8-9), todos nós somos vulneráveis à depressão. A nossa fé e dependência de Deus, sem dúvidas, pode nos ajudar a enfrentar os males causados por ela. Passar por uma situação como essa, de modo algum, tem a ver com “falta de Deus”, como dito acima. O que o Apostolo Paulo e o Profeta Elias passaram, por exemplo, foi, justamente, pela sua fé e testemunho de que eram homens de Deus.

MAS, COMO AS ESCRITURAS NOS AJUDAM A ENFRENTAR UMA DEPRESSÃO? 

1. DEUS NOS ENSINA QUE PRECISAMOS DE PESSOAS – Deus nos fez seres sociáveis. Não fomos feitos para vivermos sozinhos, isolados. No relato da criação, no livro do Gênesis, a primeira vez que expressão “não é bom” aparece é quando Deus percebe Adão sozinho. (Gn. 2.18). Familiares, amigos, colegas e, no caso de uma pessoa doente, como alguém com depressão, profissionais que o ajude a tratar a doença. Deus nos abençoou com pessoas que nos auxiliam e correspondem.

2. DEUS DÁ SENTIDO À NOSSA VIDA - É evidente que vivemos em um mundo adoecedor. Opressões, cobranças, perversidades, os sinais do pecado no mundo são variados e abundantes, e viver num mundo assim faz mal, muito mal. Ao mesmo tempo, somos empurrados para o consumismo desenfreado, pressionados a construir uma carreira profissional relevante, enquanto vivemos aprovados com a violência dos grandes centros urbanos. Nos falta tempo de qualidade para aprofundar relacionamentos e desfrutar de momentos de prazer. Contudo, Jesus nos ensina algo primoroso em Mateus 6:25-34:

"Portanto eu lhes digo: não se preocupem com suas próprias vidas, quanto ao que comer ou beber; nem com seus próprios corpos, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante do que a comida, e o corpo mais importante do que a roupa? (...) Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal".

O Evangelho de Jesus é um convite a um estilo de vida que previne a depressão. Viver com Jesus é compreender duas coisas fundamentais: A primeira é que Deus nos fez para a comunhão, como Ele mesmo e com o nosso próximo. Isso nos garante que as lutas e aflições da vida não serão enfrentadas em solidão. Ele virá em nosso auxilio e também nos enviará pessoas para cuidarem de nós. A segunda é também compreender que não precisamos sacrificar o nosso tempo acumulando “tesouros aqui na terra”, que não somos um diploma numa parede, que uma prova não atesta a nossa capacidade, que um status social não avalia a nossa importância. A vida de um seguidor do Jesus de Nazaré é valiosa porque ele entende que é obra e alvo do poderoso amor do Deus Senhor da vida, da alegria e do viver. E quem assim vive, sempre terá esperança, como lembrou o salmista: “Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus.” (42.5.11- 43.5).                                                 


Lázaro Sodré
(Pastor da Igreja Batista Alvorada, Aju - SE) 


Esse texto faz parte das pastorais dominicais, na ocasião do setembro amarelo, 2019

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