terça-feira, 31 de dezembro de 2024
POR UM FELIZ ANO NOVO: ESPERANÇA
terça-feira, 24 de dezembro de 2024
FELIZ NATAL
sábado, 21 de dezembro de 2024
O PRIMEIRO MILAGRE DO AMOR
O PRIMEIRO MILAGRE DO AMOR
"Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; e da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne."
- Gênesis 2.21-24
Há uma beleza singular na poesia da criação. Não são textos literais. A preocupação não é com a literalidade, mas com a teologia e a beleza poética. Bem característico dos textos judaicos, como os livros dos Salmos e Cantares de Salomão. No Gênesis, a maior intenção do autor é deixar claro que “no princípio, Deus”. E quando Deus deixa de estar no princípio, as coisas dão errado, bem erradas, vide o que fizeram Adão e Eva no jardim, ou Caim com seu irmão, ou ainda os homens na grande torre do capítulo 11.
Contudo, quando o princípio está e vem de Deus, há santidade, vida e ordem. Assim é a união matrimonial. Os mais atentos perceberão que o autor credita a Deus a ideia do casamento. Adão não pediu uma companheira. Estava ele no jardim, com toda fauna e flora ao seu dispor. Mas o poeta registra algo: a primeira vez que Deus percebe algo que não estava bom em sua criação foi, justamente, na humanidade. Para que Adão tivesse a imagem e semelhança do seu Criador, ele não poderia estar só. O Eterno afirmou: “Não é bom que o homem esteja só”. Faltava-lhe algo, ele não estava completo.
Mas uma questão surge: pode o Senhor fazer algo que não seja bom? Lógico que não. Então, o que significam essas palavras? Na verdade, a humanidade não estava completa ainda. Semelhante a algo que ainda não alcançou a sua plenitude, que ainda não amadureceu o suficiente, que não alcançou a forma final, ainda não estava bom. Foi justamente depois da criação de Eva que a humanidade ficou completa.
É justamente nessa experiência que a humanidade testemunha o primeiro milagre de Deus: dois se tornam um. O casamento é um milagre. São duas pessoas, dois corpos, duas histórias, muitos sonhos, vontades e quereres que, voluntariamente, se unem e decidem fazer de tudo isso algo comum, por isso um milagre. A poesia bíblica nos ensina que o casamento é o primeiro milagre realizado pelo amor.
Quando Adão exclama “essa sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne”, ele está relatando uma evidência: ela sou eu. Não há mais dois, mas um só. Daí o grande paradoxo que o grande Camões, certamente inspirado no texto bíblico, sobretudo no capítulo 13 da primeira carta aos Coríntios, escreveu seu soneto 11:
Alguém poderia dizer que tudo isso é contraditório, mas não é, é apenas paradoxal. O amor é exatamente isso, e quero comentar apenas três frases desse belíssimo soneto:
"Amor é fogo que arde sem se ver" – O amor é descrito como uma força intensa, mas invisível. A imagem do fogo simboliza a paixão e o desejo, que consomem sem ser necessariamente percebidos externamente. É uma metáfora para as emoções que queimam no interior.
"É um não querer mais que bem querer" – O amor é um desejo tão profundo que, paradoxalmente, quem ama não quer nada além de amar. É um anseio que se basta em si mesmo. Aliás, Tim Maia cantou:
"A semana inteira/
Fiquei esperando/
Pra te ver sorrindo/
Pra te ver cantando/
Quando a gente ama/
Não pensa em dinheiro/
Só se quer amar,
se quer amar, se quer amar."
"É querer estar preso por vontade" – O amor é uma prisão que o amante escolhe, porque sente prazer em se submeter a ela. É um paradoxo: a liberdade é sacrificada voluntariamente em nome do amor.
Portanto, por mais que o casamento esteja tão banalizado, desacreditado e, não raras vezes, seja motivo de chacota, ele ainda é, para os que têm a felicidade de experimentá-lo como um milagre de Deus, uma experiência de amor, profundo amor. Primeiramente de Deus, mas também daqueles que se amam.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
HISTÓRIAS DO NATAL: ENQUANTO ESPERAMOS NO SENHOR
HISTÓRIAS
DO NATAL: ENQUANTO ESPERAMOS NO SENHOR
"Havia
em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão; e este homem era justo e temente a
Deus, esperando a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. E
fora-lhe revelado, pelo Espírito Santo, que ele não morreria antes de ter visto
o Cristo do Senhor. E pelo Espírito foi ao templo e, quando os pais trouxeram o
menino Jesus, para com ele procederem segundo o uso da lei, ele, então, o tomou
em seus braços, louvou a Deus, e disse:
Agora,
Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra; Pois já os meus
olhos viram a tua salvação, a qual tu preparaste perante a face de todos os
povos; Luz para iluminar as nações, E para glória de teu povo Israel. E José, e
sua mãe, se maravilharam das coisas que dele se diziam.
E Simeão os
abençoou, e disse a Maria, sua mãe: Eis que este é posto para queda e elevação
de muitos em Israel, e para sinal que é contraditado (E uma espada traspassará
também a tua própria alma); para que se manifestem os pensamentos de muitos
corações."
– Lucas 2:25-35
É bastante comum, para nós, cristãos contemporâneos, ficarmos
sensibilizados com histórias de testemunhos dramáticos que ouvimos. Eu, como
cristão batista, sempre ouvi com muita atenção e admiração as histórias dos
missionários da Junta de Missões Mundiais (JMM), quando falam dos trabalhos em
países mais empobrecidos e de como Deus curou, enviou provisões e realizou
conversões fantásticas. Isso, além de mobilizar de alguma forma a minha fé,
sempre despertava em mim um desejo profundo de viver experiências como essas.
Era como se eu ouvisse sobre "viver o extraordinário de Deus", e eu
creio, sempre acreditei e desejei viver isso.
Porém, como pastor, de certa forma acostumado a conversar com irmãs e
irmãos de fé, falo com alguma segurança que a maior parte das nossas vidas com
Deus não gira em torno de profundas experiências do extraordinário. A realidade
da vida cristã, em sua maior parte, acontece no ordinário da vida mesmo. Veja,
não que eu não creia ou não deseje ver e experimentar essas coisas. Há em mim
sempre uma enorme expectativa de viver e depois contar, com muita alegria, algo
semelhante. Mas tenho aprendido que a caminhada de fé acontece no chão da
realidade.
Gosto de lembrar do capítulo 11 do livro de Hebreus, que tradicionalmente
é conhecido como "A galeria dos heróis da fé". Ali há o equilíbrio
perfeito do que acontece em nossas vidas. Existem testemunhos de coisas
grandiosas que homens e mulheres de Deus viveram, mas há também histórias de
derrotas, perdas e dor. Contudo, até mesmo essas histórias são histórias de fé,
de heróis da fé, histórias de pessoas que viviam pela fé.
TER FÉ É TER
PACIÊNCIA E ESPERANÇA
Um dos salmos mais conhecidos da tradição cristã é o Salmo 40, que começa
dizendo: "Esperei com paciência no Senhor e Ele se inclinou para mim e
ouviu o meu clamor" (v.1). Aliás, daqui tiramos uma definição sobre a
esperança do Evangelho: esperança é aguardar com confiança sob a promessa de
Deus.
A história de Simeão é uma história de paciência e esperança. Não temos
muitas informações sobre ele. Ele não aparece em nenhum outro momento nas
narrativas bíblicas, apenas aqui. Mas o que se fala sobre ele é bastante
inspirador: era um homem justo, temente a Deus e que esperava no Senhor (v.
25).
Como todo judeu, Simeão vivia a expectativa messiânica. Ele aguardava o
"consolador de Israel". Mas, enquanto esperava, Simeão vivia pela fé.
O verso 1 do capítulo 11 de Hebreus diz (cito aqui a versão NVT): "A fé
mostra a realidade daquilo que esperamos; ela nos dá convicção de coisas que
não vemos..." Ou seja, experimentamos em nossa realidade as coisas que
esperamos, que ainda não vieram, e temos convicção de coisas que não estamos
vendo. É exatamente isso que Simeão faz. Por ter convicção, ele vivia a
realidade do Reino de Deus. Enquanto esperava a intervenção de Deus, ele vivia
a justiça do Reino e em temor ao Senhor.
Mas, para muitos, a vida de Simeão pode parecer sem graça. Sem grandes
testemunhos a contar, sem experiências extraordinárias acumuladas, somente uma
vida comum. A questão é que somos viciados em drama. Quanto mais dramática a
história, mais surpreendente nos parece. Por conta disso, pensamos que, quanto
mais dramática a história e a vida são, mais fé a pessoa precisa ter. No
entanto, Jesus nos disse que são bem-aventurados os que não viram, mas, mesmo
assim, creram. Creram nas coisas que não se viam e em coisas que esperavam.
Não precisamos de uma história dramática para viver o cuidado, a provisão
e os milagres de Deus. Existem milagres maravilhosos que vamos viver, que
ninguém vai saber, que não haverá uma narrativa surpreendente, que acontecerão
nos bastidores. Às vezes, só você e Deus vão saber. Às vezes, será algo visto
apenas por você e seu cônjuge. Sem tocar trombeta, sem que a mão esquerda saiba
o que fez a direita. Mas, mesmo assim, será um milagre maravilhoso de Deus.
Quando Simeão tomou Jesus no colo, muitos dos que estavam ali não sabiam
o que estava acontecendo, mas Simeão sabia. Naquele momento, aquele menino era
um milagre que Simeão estava testemunhando. Algo entre ele e Deus. Uma promessa
se cumprindo. Algo extraordinário acontecendo, mas ninguém além de Maria, José
e a profetisa Ana estava vendo.
Deus fez Simeão experimentar algo profundo, grandioso e eterno. E o que
ele diz atesta isso: "Os meus olhos viram a tua salvação, a qual tu
preparaste perante a face de todos os povos; Luz para iluminar as nações, e
para glória de teu povo Israel" (v. 30). A salvação do Senhor vem para
todos os que pacientemente guardam a esperança. Continue firme, fiel ao Senhor,
porque certamente seus olhos também verão a grande provisão do Senhor.
Pr. Lázaro Sodré
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
SINAIS DO REINO: GENEROSIDADE
domingo, 8 de dezembro de 2024
A MARGINALIDADE DO NATAL
A MARGINALIDADE DO NATAL
"Depois que Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: ‘Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’. Quando o rei Herodes ouviu isso, ficou perturbado, e com ele toda a Jerusalém. Tendo reunido todos os chefes dos sacerdotes do povo e os mestres da lei, perguntou-lhes onde deveria nascer o Cristo. E eles responderam: "Em Belém da Judéia; pois assim escreveu o profeta..."
- Mateus 2:1-5
É notória nos Evangelhos a aproximação de Jesus com os marginalizados, excluídos e segregados. Suspeito que isso não é apenas fruto da sua misericórdia grandiosa, ou da sua graça insistente, ou ainda, do seu profundo amor, o que já seria tudo isso, por si só, maravilhoso. Porém, não é exagero associar essa identificação de Jesus com os excluídos ao fato de que era ele também um marginal. Todos sabem da solidariedade que há entre os que sofrem.
A mensagem do Natal de Jesus é, sem sombras de dúvidas, uma mensagem marginal para os marginalizados. Somente nessa breve cena que compõe a saga do advento, contém algumas informações que atestam essa marginalidade.
A primeira é que o evento mais extraordinário de toda a história de Israel é percebido não pelos escribas, fariseus ou mestres da Lei, mas por magos-astrólogos vindos do oriente. A eles fora revelado, bem antes de qualquer um dos profetas e sacerdotes que viviam naquele período em Israel, o nascimento do Cristo. O relato daqueles esotéricos era que uma misteriosa estrela os guiou por dias, ao longo de desertos, proclamando o nascimento do Messias aguardado.
Aqui, já de cara, há um inconveniente fato sobre o nascimento de Jesus. O Rei do Judeus, filho de Deus, o messias aguardado por toda a elite religiosa e estudiosos da Lei de Israel, faz o seu anúncio através de uma estrela, fora do templo e dos livros, para gentios. Isso, provavelmente, para nos ensinar que a mensagem do Natal, além de ser marginal, é, também, supra religiosa. Jesus de Nazaré não está sob o domínio dos religiosos, nem das suas leis e tão pouco das suas “cidades santas”.
Não foi em Jerusalém e nem em Samaria. Não foi dentro do sacrossanto templo de Israel, e também não foi num dos aposentos do majestoso palácio de Jerusalém. Jesus nasce em Belém da Judeia, nos fundos de uma simples casa de um dos aldeões que, provavelmente, nem sabia o que estava acontecendo, além da agonia do parto de uma jovem pobre. A profecia de Miqueias não era conhecida de todo o povo. Somente os eruditos de Israel, que viviam na capital, bem próximos do rei, sabiam que o messias nasceria na pequenina e irrelevante Belém.
E mesmo diante do alvoroço que essa notícia trouxe, deixando o Rei e toda a Jerusalém perturbados, os eruditos não foram à Belém, não se dispuseram a visitá-los, assisti-lo e nem em adorá-lo. Provavelmente, assim como na parábola do “Bom Samaritano”, passaram de largo e seguiram para as suas atividades importantes no importante templo. Ao invés deles, pastores, magos, anjos e bichos deram as boas vindas ao Rei do Universo.
Dessa vez, o que podemos perceber é a acessibilidade do Santo Rei que acabara de nascer. Enquanto no palácio da cidade santa, para ter acesso à presença do rei Herodes, ou no templo, para levar as suas orações, havia, para o povo, um sem fim de protocolos e critérios, está ali Jesus, o Rei dos Reis, sem guardas, sem “protocolos de segurança”, sem rituais de purificações e nem muros de separação, recebendo presente de estranhos, sendo acolhido por gente simples e diante dos animais da roça. Simples, disponível, poderoso e marginal.
Não podemos deixar de perceber que a mensagem poderosa de Jesus está para além dos seus sermões, ensinos e exortações, pois é evidente que o próprio Jesus é a mais poderosa mensagem do Evangelho de Deus. A Boa Nova veio quebrar a lógica da religião, do domínio e dos poderosos. Deus fez de Jesus, desde antes do seu nascimento, um profeta transgressor, que estava condenado a ser um marginal da religião de Israel, dos seus sacerdotes e dos governantes. Mas o povo pôde receber o Rei dos Judeus, o Santo de Israel, que se fez carne, se fez povo e marginal para, junto aos marginalizados, anunciar a salvação de Deus.
Precisamos prestar atenção nessa mensagem. Não foi à toa e sem propósito tudo isso. Deus queria nos ensinar que bem aventurados são os pobres, os que choram e os perseguidos porque, ainda que nos reinos e nas religiões dos homens não tenham espaços para eles, no Reino Anunciado por Jesus, a lógica é invertida: Os últimos serão os primeiros, os menores serão os maiores e os marginalizados, excluídos segregados são bem vindos e estarão com Jesus no centro, numa mesa farta de pão, amor, perdão e graça.
- Pr Lázaro Sodré
domingo, 1 de dezembro de 2024
A GRANDE LUZ
A
GRANDE LUZ
“Esse tempo de escuridão e desespero, no entanto, não durará para sempre. A
terra de Zebulom e de Naftali será humilhada, mas no futuro a Galileia dos
gentios, localizada junto à estrada entre o Jordão e o mar, se encherá de
glória. O povo que anda na escuridão verá grande luz. Para os que vivem na
terra de trevas profundas, uma luz brilhará.
Tu multiplicarás
a nação de Israel, e seu povo se alegrará. Eles se alegrarão diante de ti como
os camponeses se alegram na colheita, como os guerreiros ao repartir os
despojos. Pois tu quebrarás o jugo de escravidão que os oprimia e levantarás o
fardo que lhes pesava sobre os ombros. Quebrarás a vara do opressor, como
fizeste ao destruir o exército de Midiã. As botas dos guerreiros e os uniformes
manchados de sangue das batalhas serão queimados; servirão de lenha para o
fogo.
Pois um menino
nos nasceu, um filho nos foi dado. O governo estará sobre seus ombros, e ele
será chamado de Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno e Príncipe
da Paz. Seu governo e sua paz jamais terão fim. Reinará com imparcialidade e
justiça no trono de Davi, para todo o sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos
fará que isso aconteça!”
—
Isaías 9.1-7
INTRODUÇÃO:
Sem dúvidas, o Natal é a festa da luz. Não é à toa que há luzes por todos
os lados. Essa simbologia é precisa, pois a luz faz sempre oposição às trevas.
Na Bíblia, trevas fazem referência, pelo menos, a três coisas: ao mal, à
ignorância e ao vazio. Onde há essas coisas, há trevas. O mundo ao nosso redor
é assim. A escalada da maldade no mundo é a maior prova do fracasso da
humanidade. Há maldade por todos os lados: violência, corrupção, guerra,
mazelas sociais. Poderíamos passar horas listando o mal que existe. É triste
como nos acostumamos a conviver com isso.
Além disso, a sociedade vive um enorme paradoxo: ao mesmo tempo em que
convive com a quantidade de informações e conhecimentos jamais vista, vivemos
com mazelas que confrontam todo esse conhecimento. Temos visto que o acúmulo de
conhecimento e informações não é sinônimo de sabedoria e inteligência. Nos
deparamos constantemente com comportamentos rudimentares dos seres humanos,
próprios de bestas feras e, como nunca, as pessoas têm vivido com dramas agudos
em suas almas. Como dizem, vivemos uma epidemia de doenças emocionais e vícios,
que especialistas identificam como consequências de almas vazias e vidas sem
propósito.
As ideologias políticas, os modelos econômicos, os extraordinários feitos
das tecnologias e até as mais sofisticadas elaborações filosóficas, nada disso
tem se mostrado capaz de dissipar as densas trevas que estão sobre o mundo. A
pretensão humana de auto-salvação é um fiasco, o mundo jaz em trevas.
A PROMESSA DA
LUZ:
O relato que antecede esse capítulo 9 de Isaías retrata um drama da
sociedade da época, que não difere muito da sociedade contemporânea: “Andam
sem rumo, cansados e famintos. E, por causa da fome, amaldiçoam seu rei e seu
Deus. Olharão para o céu, depois olharão para a terra, mas para onde voltarem
os olhos só haverá problemas, angústia e sombrio desespero. Serão lançados nas
trevas.” (8.21).
Contudo, há uma promessa de esperança: “Esse tempo de escuridão e
desespero, no entanto, não durará para sempre... O povo que anda na escuridão
verá grande luz. Para os que vivem na terra de trevas profundas, uma luz
brilhará.” (9.1-2)
A promessa de
Isaías é como uma estrela que surge no céu mais escuro. Essa luz não é uma
ideia abstrata; é uma pessoa, o próprio Cristo, que vem para dissipar as trevas
e trazer um novo começo.
A pretensão humana de auto-salvação, por mais bem-intencionada que seja,
é como tentar consertar uma lâmpada quebrada sem eletricidade: por mais bela
que seja a lâmpada, ela não iluminará sem uma fonte de energia externa. O mesmo
acontece conosco: sem a luz de Cristo, nossos esforços são insuficientes. Entendemos
que ideologias políticas que prezam pelos menos favorecidos fazem contribuições
importantes; assim como modelos econômicos mais justos, que não exploram nem
usurpam os direitos dos trabalhadores, tudo isso é muito importante e não
podemos abrir mão. Porém, nada disso, por si só, é suficiente.
O que Isaías diz
é que o povo viu uma grande luz porque: “Tu multiplicarás a nação de
Israel, e seu povo se alegrará. Eles se alegrarão diante de ti como os
camponeses se alegram na colheita, como os guerreiros ao repartir os despojos.
Pois tu quebrarás o jugo de escravidão que os oprimia e levantarás o fardo que
lhes pesava sobre os ombros. Quebrarás a vara do opressor, como fizeste ao
destruir o exército de Midiã. As botas dos guerreiros e os uniformes manchados
de sangue das batalhas serão queimados; servirão de lenha para o fogo.”
(9.3-5)
E como essa maravilhosa luz brilhará em e entre nós? Isaías explica: “Pois
um menino nos nasceu, um filho nos foi dado.” É justamente por causa do
nascimento do “menino Deus” que será possível. A luz que ilumina a todos os
homens nasceu do ventre de uma mulher, numa simples manjedoura, na humilde
Belém da Judeia. E Ele brilhará porque Ele é Maravilhoso Conselheiro, Deus
Poderoso, Pai Eterno e Príncipe da Paz.
Maravilhoso
Conselheiro - Ele é a grande referência que nos ajudará a discernir o certo
do errado, o bem do mal. Vivemos uma crise de referências no mundo, nos faltam
modelos inspiradores de ética. Jesus de Nazaré foi o modelo de ser humano que
Deus deseja que todos nós sejamos. Muito mais do que um chamado religioso, o
Cristo nos convida à humanização. Sobre o Cristo, o papa São Leão Magno
afirmou: “Um Jesus tão humano assim, só podia ser Deus”. O Cristo
encarnado é o nosso Maravilhoso Conselheiro.
Deus Poderoso
– Tim Keller diz que, diante do Deus poderoso, não temos a opção de gostar
dele. Não temos como ficar indiferentes diante de Jesus. Ou rejeitamos, ou
ficamos com raiva, ou nos prostramos em adoração. Quem realmente compreende
quem é Jesus se enche de espanto, como os discípulos no barco: “...quem é
este, que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mc 4.41). Quando fazemos
isso, nos colocamos submissos à sua soberania, vontade e direção. Abrimos mão
dos nossos “quereres” para dizer: “Seja feita a sua vontade”.
Pai Eterno
– Contudo, mesmo sendo o grandioso Deus, Ele é também o Pai Eterno. Em Jesus,
encontramos o colo amoroso, restaurador e cuidadoso de Deus. A graça do amor do
Deus Poderoso se dá acessível, disponível e gratuita em Cristo. Essa é a
mensagem do Evangelho: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o
mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da
reconciliação.” (2 Co. 5.19).
Príncipe da
Paz – E, por fim, Jesus de Nazaré é o Príncipe da Paz. A paz aqui ocupa,
pelo menos, três sentidos. Primeiro, Ele pacifica os nossos corações aflitos,
ansiosos e angustiados. A todos nós Ele diz: “Vinde a mim e encontrarão
descanso para as suas almas.” Além disso, Ele estabelece a paz entre
nós e o nosso próximo. O Cristo nos ensina o caminho do amor, da generosidade e
do perdão. Ele cura o nosso coração da vingança, do rancor e da bestialidade.
Ele nos ensina a pagar o mal com o bem. Mas Ele também nos faz estar em paz com
Deus. O apóstolo Paulo diz: “Sendo justificados, pois, pela fé, temos paz
com Deus.” (Romanos 5:1)
A luz profetizada por Isaías brilhou em Belém e continua a brilhar hoje,
transformando vidas. Cristo não é apenas uma lembrança histórica; Ele deseja
iluminar nosso coração neste Natal. Que possamos, ao celebrarmos o nascimento
de Jesus, permitir que Ele seja nossa luz em um mundo em trevas. Como Ele
disse: "Eu sou a luz do mundo." (João 8:12)