JESUS, O CRISTO VINDO DE NAZARÉ
(Série: Eu Sou Jesus, o
Cristo)
“Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa
boa de Nazaré”
(João
1:46)
Sobre Jesus Cristo algumas
afirmações são inevitáveis, e, uma delas, é que ele sempre deixava claro os
seus posicionamentos. O mestre nunca ficava em cima do muro, nunca deu margem
para confundirem os seus posicionamentos. Nenhum Fariseu ou um de seus
discípulos ficaram em dúvida sobre as escolhas e opções. Ele sempre se fez
devidamente entendido. Os lugares que ele frequentava, as pessoas que se
assentavam à sua mesa, os seus ensinamentos e protestos, tudo isso lhe conferiu
rótulos, por exemplo: “Amigo
de publicanos e pecadores” (Mt.
9.11). As confusões que os mestres da
Lei e autoridades faziam, não era porque não entendiam o que Jesus falava, mas,
sim, por que não concordavam. A questão era: “Com que autoridade fazes essas coisas?” (Mt. 21.23) ou, desmerecendo diziam: “Não é este o filho do carpinteiro?” (Mt. 13.55).
Sim, Jesus era filho de
trabalhador braçal, um carpinteiro iletrado e de Maria, uma mulher do campo, sem
“linhagem real”. Ele veio da região menos favorecida de Israel, a Galileia.
Nasceu em Belém, mas fez morada em Nazaré. Nem podemos chamar Nazaré de cidade,
nem mesmo segundo os padrões do tempo de Jesus. Ali, no máximo, uma vila de
camponeses, em sua maioria analfabetos. Não figurava nas grandes rotas
econômicas e nem religiosas de Israel, e tão pouco de Roma, a capital do
Império. Irrelevante, insignificante, desconhecida. Não é por menos o espanto de
Natanael: “Pode vir coisa boa de Nazaré?”
Entretanto, Jesus permite ser
reconhecido como “Nazareno”.
Os Judeus do tempo de Jesus eram
extremamente preconceituosos. Misoginia e Xenofobia eram comuns entre aqueles
homens. No Sidur, o livro das preces matinais dos judeus, havia uma oração que
dizia: “"Oh, Senhor muito obrigado por não ter nascido cão (ou gentio),
escravo e nem mulher". Um não
judeu, uma mulher e uma pessoa escravizada eram colocados no mesmo nível de um
cachorro. A ideia de que os diferentes eram dignos de desprezo foi construída
em Israel pelo legalismo religioso e pelo nacionalismo fanático. Apesar de
Nazaré ser dentro do território de Israel, a sua inexpressão na tradição
Judaica fazia dos seus moradores um tipo de gente desprezada.
Por isso que quando Jesus de
Nazaré é apresentado como o Cristo, imediatamente causou um enorme
estranhamento e rejeição. O Cristo não poderia vir de Nazaré, não poderia falar
as coisas que Jesus falava, não poderia fazer o que ele fazia. Jesus se
posicionou de modo diametralmente oposto à tradição que inferiorizava, oprimia
ou rejeitava as pessoas, seja lá quem fosse. O Cristo de Deus rompe com a
tradição dos rabinos e dos mestres da Lei por entender que “... o ‘sábado’ foi feito para o homem e
não o homem para o ‘sábado’”.
(Mc. 2.27) e que a Graça de Deus não era privilégio dos Judeus e muito mesmo
limitada ao domínio dos “donos da religião”, às suas teologias, dogmas e
preceitos.
Perceber o local que Jesus está,
os adjetivos que lançam sobre ele e as pessoas com as quais ele entra em
embate, nos ajuda a entender o processo de libertação que o Cristo de Deus
produz em nossos corações.
- O CRISTO DE NAZARÉ NOS LIBERTA DO PRECONCEITO – Os preconceituosos e os discípulos de Jesus
necessariamente estarão em lugares opostos. Não há o menor espaço em Jesus de
Nazaré onde qualquer espécie de preconceito seja possível. Seguir ao Rabino
Nazareno é saber que sempre Ele acolherá a todos os que foram marginalizados
pelas estruturas de poder econômico ou religioso. Jesus “vulgariza” o Deus de
Israel ao tira-lo dos templos e leva-lo às ruas, favelas e praças.
Os mais impressionantes encontros
que Jesus teve não foi nos templos e sim nas ruas, entres os menos favorecidos,
em conversas com os camponeses, trabalhadores operários e doentes. Isso não
quer dizer que Jesus não aceita aos que tem posses, muito pelo contrário. A
palavra “rejeição” não é encontrada nele. O que Jesus faz é quebrar o monopólio
da religião seletiva de Israel, afirmando que o seu Deus e Pai não faz acepção
de pessoas.
- O CRISTO DE NAZARÉ LIBERTA O
ETNOCENTRISMO – foi o Desmond Tutu
quem disse: “Deus não é Cristão”. Sim, nem judeu, nem grego e nem
romano. Deus está para além de qualquer etnia, religião ou construto humano.
Por mais obvia que pareça ser essa afirmação, ela é libertadora. Jesus ensina
isso para uma mulher que encontra no poço (Jo. 4). O profeta Joel anuncia um
dos oráculos mais impactantes do Antigo Testamento (2.28-32):
“... derramarei o meu Espírito sobre
toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos
velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. E também sobre os servos
e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito. E mostrarei
prodígios no céu, e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça. O sol se
converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível
dia do Senhor. E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será
salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como
disse o Senhor, e entre os sobreviventes, aqueles que o Senhor chamar.”
Em Jesus, os filhos e as filhas,
os velhos e os jovens e até os servos e as servas receberão do Espírito do
Senhor. A Salvação alcançara Jerusalém, a cidade do Império e do Tempo, mas
também a Galileia e a Samaria e a todos os que o Senhor chamar.
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O CRISTO DE NAZARÉ LIBERTA DA RELIGIOSIDADE E NOS CONVIDA À ESPIRTUALIDADE - Jesus aproxima o Deus Eterno das pessoas. Não
mais é necessário o tributo, as indulgências, os custos das cerimônias, os
ritos de purificação. “Destruam o templo” (Jo. 2.19) e todas as suas
estruturas, ordenou Jesus. Deus não mora nele. O Deus Eterno habita em
corações, seja lá qual for, que deseja recebe-lo com sinceridade. A
espiritualidade dos que se encontram com Jesus nasce nos corações que foram
libertos. O Deus e Pai de Jesus não habita nos templos dos preconceitos,
discriminações ou segregação, e sim nos corações do acolhimento, da graça e da
fraternidade.
Lázaro Sodré
(Pastor da Igreja Batista Alvorada, Aju - SE)
Esse texto faz parte de uma série de pastorais dominicais, baseadas no
Evangelho de João, intituladas "Eu sou Jesus, o Cristo" - Texto n° 4
Evangelho de João, intituladas "Eu sou Jesus, o Cristo" - Texto n° 4
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