terça-feira, 31 de dezembro de 2019
CONSELHOS PARA OS QUE DESEJAM UM ANO NOVO (corrigido e ampliado)
"Espere no Senhor. Seja forte! Coragem! Espere no Senhor."
(Salmos 27:14)
Não há como ter um ano novo fazendo as mesmas coisas.
Por mais óbvio que pareça ser, nada muda, se nada muda. Sei que todos desejam um ano novo, e mais, um feliz ano novo! Não apenas novas datas de um calendário, mas, uma nova agenda, novas oportunidades, novas experiências. Porém, sei também que a maioria das pessoas que conheço não terão como mudar muitas coisas em suas vidas.
Continuarão nos mesmos empregos, morando na mesma casa, cercadas das mesmas pessoas, tendo a mesma rotina. Continuarão com as mesmas preocupações, mesmo corre-corre e, até mesmo, os mesmos estresses.
Para essas pessoas cabe a expressão do autor do Eclesiastes "Não há nada de novo debaixo do sol" (Ecl. 1.9). Talvez, para essas pessoas, desejar ou sonhar com um ano novo pode parecer apenas um jargão sem sentido, ou uma doce ilusão de românticos ingênuos.
Porém, nesse versículo 14 do Salmo 27, o salmista nos convida a pensar, ter esperança e colocar o Senhor no “centro” das nossas vidas.
"Espere no Senhor. Seja forte! Tenha Coragem! ‘E descanse, esperando’ no Senhor."
Comece o ano sabendo disso: Existem muitas coisas que não temos a menor capacidade ou a competência de muda-las. Tem coisas que não sabemos o que fazer para muda-las e nem cabe a nós fazer isso. Pessoas, situações, condições, organizações...
Sobre essas coisas, espere no Senhor. Não adianta se desgastar imprimindo forças ou gastando energia naquilo que você não pode nada fazer. Talvez o desafio seja, até mesmo, aprender a viver com elas, ouvindo do Senhor: “A minha Graça te Basta!”. (2 Co. 12.9)
Sobre isso: Ore, entregue nas mãos do Eterno e descanse.
Mas seja forte também!
Alguém já disse que a vida não dá mole para quem é fraco. O mundo não vai parar para você se recompor, para você enxugar as suas lágrimas, para você entender os caminhos e descaminhos do viver. “Parta pra cima!” Se esforce, permaneça firme. Acorde mais cedo, durma mais tarde, ore bastante.
Numa frase atribuída ao pastor Martim Luther King, somo encorajados: "Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito”.
Não tenha medo de pedir ajuda quando necessário. Estude mais, trabalhe mais, ame mais, sorria mais, compartilhe vida, estabeleça laços verdadeiros de amizade e comunhão. Não fique reclamando, ninguém vai ouvir as suas reclamações (não por muito tempo), vou lhe contar um segredo: ninguém gosta de ficar ouvido reclamações e murmurações em todo o tempo.
Mas também lembre-se de duas coisas importantes: Você não precisa ser forte o tempo todo e nem passar pelas lutas sozinho. Às vezes, o maior sinal de força é se reconhecer fraco, e pedir ajuda aos amigos e irmãos.
Tenha coragem!
É tolice esperar um ano novo fazendo as mesmas coisas. Tenha coragem para resolver aquele problema que tira a sua paz, para encarar seus medos, para tratar traumas, para sair de um relacionamento abusivo e tóxico. Coragem para começar aquela especialização, para se lançar em novos projetos, para aprender algo novo e fazer novas amizades. Tenha coragem para se dedicar mais ao Senhor da sua vida, lembre-se dos seus dons, talentos, do seu chamado. Pare de dar desculpas, isso é chato e não agrada a Deus.
Tenha coragem para casar, coragem para melhorar seu desempenho, para conhecer novas pessoas, para recomeçar a sua vida, se for o caso. Seja corajosa ou corajoso e comece a cuidar do seu corpo, da sua saúde emocional, da sua alma! Faça exercícios, mude hábitos alimentares que te fazem mal, leia bons livros, comece uma terapia, ouça boas músicas, cultive disciplinas espirituais. Não esqueça, Deus sempre nos dá novas oportunidades. Sempre haverá lugares novos para lançarmos as nossas redes.
Um ano novo só pode ser vivido por quem tem coragem, muita Coragem!
E por fim, depois de ter feito tudo o que cabe a você, consagre ao Senhor o trabalho das suas mãos e espere no Nele. Talvez você vai passar o ano novo com as mesmas pessoas, fazendo as mesmas coisas, vivendo nos mesmos ambientes. Você pode até fazer novamente tudo o que você fez e viveu no ano que passou, mas pode fazer isso de uma forma bem melhor. Com mais vida, mais amor, mais paixão. Com excelência, alegria e leveza.
Viver é um misto dessas coisas. E esse é um caminho para quem, de fato, deseja fazer e viver um Ano Novo.
Pr Lázaro Sodré
- texto publicado originalmente em 2018
sexta-feira, 27 de dezembro de 2019
O CÂNTICO DE MARIA
O CÂNTICO DE MARIA
“Disse então Maria:
Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos. Auxiliou a Israel, seu servo, recordando-se da sua misericórdia; como falou a nossos pais, para com Abraão e a sua posteridade, para sempre.
E Maria ficou com ela quase três meses, e depois voltou para sua casa.”
(Lucas 1:46-56)
O nascimento de Jesus é muito mais do que um evento religioso.
As implicações do Natal do Cristo de Nazaré atingem, em cheio, questões religiosas, sociais, éticas, políticas e econômicas. Os evangelhos registram que Jesus nasceu em Belém da Judeia, no tempo em que Herodes era o rei de Israel.
Dois sumo-sacerdotes exerciam o poder no templo de Jerusalém: Caifás e seu sogro, Anás. Jesus era filho de Maria, uma jovem prometida a um carpinteiro chamado José, da linhagem de Davi. Apesar de estarem em Belém da Judeia, eles moravam numa vila pobre de camponeses, na província da Galileia, chamada Nazaré.
Não podemos desconsiderar essas informações sobre Jesus e o contexto do seu nascimento. Todas essas questões são tão importantes que, quando o apóstolo Paulo falou do cumprimento da promessa na vinda do Messias, ele se refere a um “tempo oportuno” ou “plenitude dos tempos” (Gl 4:4; 2 Co 6:2, citando Is 49:8). Deus levou em consideração o domínio romano, toda a turbulência interna e externa a Israel, os anos de opressão e exploração enfrentados pela Galileia, o preconceito étnico e social sofrido por Samaria e toda a corrupção político-religiosa da Judeia.
Maria estava muito atenta a tudo isso e, de forma profunda e extremamente precisa, ousadamente apontou, em seu cântico, como o Senhor resiste e reprova toda opressão, violência e corrupção dos homens, e como, num ato de misericórdia, socorre os que acreditam e confiam n’Ele.
Vemos isso em cinco partes:
“Então disse Maria: 'Minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.'” (vs. 46,47)
Apesar de Maria falar na primeira pessoa — “...meu Salvador” —, sua fala ecoa a voz de todas as mulheres de Israel. Este é o único discurso longo de uma mulher no Novo Testamento e um dos maiores em toda a Escritura. Maria apresenta Deus como o Salvador de todos os oprimidos e, em especial aqui, de todas as mulheres.
Esse cântico encontra precedentes em outros cânticos do Antigo Testamento, que exaltam a atuação misericordiosa, graciosa e poderosa de Deus na libertação do seu povo (Miriã em Êx 15; Débora em Jz 5; Ana em 1 Sm 2).
O cântico de Maria nos desafia a não aceitar pacificamente nenhuma estrutura de opressão. Historicamente, as mulheres têm sofrido diversas formas de violência em nossa sociedade: violência doméstica e obstétrica; assédios nos ambientes de trabalho e nas ruas; discriminação e preterição em suas profissões e carreiras acadêmicas. Esses são apenas alguns exemplos das inúmeras situações em que as mulheres são expostas, apenas pelo fato de serem mulheres. Mas o que Maria afirma em seu cântico é que Deus não aprova nenhuma forma de abuso ou opressão, nem mesmo aquelas disfarçadas de piedade e zelo religioso.
“Pois atentou para a humildade da sua serva. De agora em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, pois o Poderoso fez grandes coisas em meu favor; santo é o seu nome.” (vs. 48,49)
A palavra “baixeza” ou “humildade” (gr. tapéinosis) é usada muitas vezes no Antigo Testamento grego (a Septuaginta) para fazer referência à humilhação social e política que Israel sofria sob a dominação de potências estrangeiras (Dt 26:7; 1 Sm 9:16).
Encontramos algumas semelhanças na atuação de Maria com ícones importantes do Antigo Testamento, como Abraão e Moisés. Assim como Abraão, que, pela fé, deu início à peregrinação do povo de Deus no Antigo Testamento, e por isso foi chamado de “Pai da Fé”, Maria deu início à caminhada do povo no Novo Testamento com um chamado de fé. É isso que Isabel diz: “Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas.” (Lc 1:45).
Já o título de “grande libertador” do Antigo Testamento está com Moisés. Embora seja lógico que estamos falando aqui de uma libertação político-econômico-social, que não se compara à atuação de Jesus, é importante lembrar que Moisés foi apenas um instrumento do poder divino. O grande Libertador é o próprio Deus. Nesse sentido, Maria se assemelha a Moisés ao se colocar como serva obediente, dizendo: “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1:38).
Portanto, assim como há espaço na tradição judaico-cristã para Abraão e Moisés, deve haver, de igual modo, para Maria como uma serva importante na história da redenção, tanto pela sua fé quanto pela sua obediência.
“A sua misericórdia estende-se aos que o temem, de geração em geração. Ele realizou poderosos feitos com seu braço; dispersou os que são soberbos no mais íntimo do coração.” (vs. 50,51)
Essa expressão — “...com seu braço agiu valorosamente” — é usada no Antigo Testamento para indicar o agir de Deus em favor do seu povo, especialmente no Êxodo. Mais uma vez, Maria se aproxima de Moisés, sendo usada como instrumento precioso nesse processo de libertação do povo de Deus.
“Depôs dos tronos os poderosos, e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu vazios os ricos.” (vs. 52,53)
Na tradição do judaísmo popular do tempo de Jesus, havia uma oração em que um judeu agradecia a Deus todos os dias por não ter nascido mulher, cachorro ou samaritano. A partir daqui, tal comparação se torna impensável.
O Deus poderoso age em favor dos humilhados e oprimidos, contra as forças socio-religiosas e político-econômicas que se opõem ao seu projeto, subvertendo a estrutura da sociedade que perpetua tais distinções. O Evangelho do Reino é a Boa Nova de salvação que desfaz qualquer mecanismo opressor — seja étnico, social ou de gênero. Em Jesus, Deus cria uma nova humanidade:
“Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram. Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus. E, se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa.” (Gl 3:26-29)
“Auxiliou a Israel, seu servo, recordando-se da sua misericórdia; como falou a nossos pais, para com Abraão e a sua posteridade, para sempre.” (vs. 54,55)
O Magnificat, ou o cântico de Maria, é esse grande cântico libertador que marca o início do Reino de Deus. É um documento revolucionário e intenso, proclamado por uma mulher que anuncia as virtudes e os valores de misericórdia, paz, justiça, compaixão e igualdade da espécie humana.
Aqui está um cântico de louvor ao Deus misericordioso e libertador das mulheres e dos oprimidos, cujos direitos foram e são violados diariamente. Esse cântico de Maria apresenta a dinâmica do Reino de Deus inaugurado em Jesus de Nazaré: uma economia transformada (os poderosos são depostos e os humilhados elevados), a violência superada e o alimento provido aos famintos.
A espiritualidade do Natal de Jesus está na santidade, na misericórdia e na solidariedade para com os que sofrem. Nos corações em que Jesus nasce, Ele faz brotar essas coisas.
Pr Lázaro Sodré
@IB Alvorada - Aracaju, SE.
terça-feira, 24 de dezembro de 2019
FELIZ NATAL
“Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor.”
(Lucas 2:11)
Anjos se ocuparam de anunciar o nascimento de Jesus a alguns pastores no campo. Foi em Belém, uma das aldeias de Judá, sul de Israel. O local não foi o mais adequado, o período também não. Seus pais estavam em plena viagem para o recenseamento exigido pelo imperador. De improviso, numa manjedoura, único local disponível. Nenhuma hospedaria disponibilizaria um leito para uma mulher grávida, nos dias de ter a criança. Pela Lei de Moisés, o local do parto ficaria impuro por uma semana, e como a cidade estava cheia, seria um enorme prejuízo ao dono.
Mesmo naquele local, guardado pelos seus pais, observado pelos animais, envolto em panos, recebeu a visita de magos, guiados pela estrela, vindos do Oriente. Não se sabe quantos, o que sabemos é que eles o presenteou com ouro, incenso e mirra. Ali estava uma criança. Para alguns, outra como muitas. Mas para os que conheciam a promessa, era o prometido, o Cristo de Deus, o Salvador do mundo.
É por conhecer a promessa que nós, discípulos de Jesus, nos alegramos tanto com o Natal. Olhamos para aquela manjedoura e percebemos ali, de carne e osso, no seio da sua mãe, o favor do Deus Eterno. Jesus, o filho de Deus, é a materialização do amor. A Trindade Santa encarna para fazer cumprir o projeto de levar toda a raça humana de volta ao Pai, nos livrando da morte, do pecado, da desumanização.
Por isso não é exagero nenhum celebrarmos o Natal com tanta ênfase. Luzes, árvores, canções, trocas de presentes, família reunida, ceia. Tudo isso são sinais que apontam para o menino Deus, filho de Maria e José. Os cristãos ao longo dos séculos fazem questão de celebrar tudo isso.
Porém, para não perder o sentido, para não deixar que a festa de aniversário seja mais importante do que o aniversariante, é interessante, pelo menos por um momento, voltarmos à simplicidade do evento inicial. Mesmo sendo Deus e podendo nascer da mulher mais poderosa do mundo, escolheu a humilde Maria. Mesmo podendo proporcionar a maior recepção que o mundo já viu, digna dos reis, foi numa desconfortável viagem, numa simples aldeia, nos fundos da casa de um aldeão. Mesmo podendo ser anunciado em todas as nações do mundo, para ser recebido pelas figuras mais ilustres não só de Israel, mas de Roma e do Egito, as nações mais importantes da época, Ele foi recebido por simples pastores, magos e camponeses.
O Senhor dos céus e da terra fez isso, provavelmente, para nos ensinar que Ele não precisa do trono dos reinos, honrarias formais ou ostentações materiais. O Mestre não veio construir e nem tomar posse de Impérios humanos, Ele veio reinar em corações. Por isso, a forma mais adequada de se celebrar o Natal é fazendo dos nossos corações uma manjedoura.
Se o Cristo não nascer em cada um de nós, perde-se completamente o sentido da festa. Jesus nasceu para nos dá vida, a vida de Deus. Ele é a porta de acesso a comunhão. Comunhão com Deus, nos livrando da religiosidade e paganismo. Comunhão com o nosso próximo, nos livrando do egoísmo e individualismo. Se junto com as luzes, árvores, trocas de presentes, ceias e canções, Jesus não nascer em nós, tudo isso não passará de uma festa, simples festa do consumismo, da glutonaria, da ostentação e da hipocrisia. Os discípulos de Jesus não esquecem da festa e muito menos do festejado, do aniversariante, do Salvador, que é Cristo, o Senhor.
Um Feliz Natal.
Pr Lazado